Desde 28/01/11, estou em Londres para meu doutorado sanduíche na University College of London (UCL). Ficarei por aqui até dezembro de 2011. Este blog tem o objetivo de narrar minha vida acadêmica assim como minhas experiências como professor-correspondente da ESPM em Londres.
quinta-feira, 27 de outubro de 2011
Egressos ESPM na Inglaterra III - Marina Braga
Marina é uma ex-aluna da ESPM que, depois de formada, passa por uma experiência internacional em sua carreira. A egressa do curso de Comunicação Social da ESPM nos conta um pouco de sua trajetória, seus planos e suas experiências aqui na Inglaterra. Vale acompanhar um pouco da história desta sempre bem-vinda ex-aluna da ESPM.
– Conte, brevemente, sua trajetória pessoal e escolar até ingressar na ESPM (cidade de origem, colégio em que estudou, opções de curso e escolhas para o vestibular, o processo de seu vestibular etc.)
Bom, eu nasci e fui criada em São Paulo. Estudei a vida toda no Colégio Palmares, o que me deu uma boa base e alguns traumas. Nunca fui uma boa aluna, sempre fui da turma da recuperação. Meu negócio era organizar as festas, grupo de teatro, competições esportivas e nada de sentar para estudar.
Escolher o que prestar no vestibular foi fácil, sabia que queria publicidade. Meus pais são publicitários, formados pela ESPM, e eu sempre me interessei pelo trabalho deles. Minha mãe é freela de Pesquisa de Mercado, trabalhou muito em casa e me envolveu nos projetos dela. Eu ajudava nas apresentações, lia os relatórios, via as colagens, etc. Sempre gostei.
Prestei ESPM e USP. Quando prestei ainda não tinha nem passado de ano, eu realmente me dedicava às recuperações. Acho que isso me deixou mais relaxada para a prova (achava que não ia passar mesmo), e acabei passando de primeira na ESPM. Bom, a USP precisava um pouco além de estar relaxada, então não rolou mesmo.
– Agora, conte-nos como foi seu período de curso na ESPM (lembranças que carrega da graduação, primeiros dias de aula, os semestres, a ida para a noite, o início de estágio, atividades na escola, estágios realizados, opção de carreira – escolha de minor, PGE etc.)
A primeira (e melhor) coisa que a ESPM me proporcionou foi meu ciclo de amizade. Desde o primeiro dia de aula conheci pessoas com quem tenho o prazer de conviver até hoje. Daquelas pessoas que parece que você conhece desde a infância. Verdadeiros amigos!
Entrar na ESPM foi finalmente estudar assuntos do meu interesse e como consequência, pela primeira vez na vida, ter boas notas. Além de assuntos que gostava, o que fez a diferença foi ter mais trabalhos e menos provas, bem diferente do colégio. Descobri que meu negócio é trabalhar em grupo, conversar, apresentar, ou seja, algo mais dinâmico do que estudar sozinha.
Não posso dizer que fui uma excelente aluna até o final do curso. No meio do caminho apareceram algumas matérias não tão interesantes que me tiraram um pouco do sono, como finanças e estatística. Peguei DPs e passei raspando algumas vezes. Mas com certeza uma boa aluna posso dizer que fui. Me formei nos esperados 4 anos, para alegria dos meus pais que não aguentavam mais pagar a mensalidade.
Também aproveitei muito o “social” na ESPM. Passei tardes na quadra, joguei handball e volei, joguei Intercalouros, Jogos Mix, fui a todos os Economiadas, fui a todas as festas, cervejadas, assisti Bixo Cross e Miss Bixete, trabalhei na Agência ESPM, fui da Comissão de Formatura, enfim, aproveitei o que pude.
Quando fui para noite não procurei estágio imediatamente. Fiquei 3 meses em casa estudando inglês para me preparar melhor. Foi ótimo, mas esse é um período que você começa a ver um pouco de competição entre os alunos, todos em busca de uma ótima empresa. Nessa pressão (mesmo que disfarçada) achei melhor começar as entrevistas. Me inscrevi para algumas empresas, mas meu foco era agência, queria planejamento. No meio do caminho me deparei com uma prova para trabalhar na Millward Brown. Não tinha a menor idéia do que era, mas as amigas da minha mãe, de planejamento, falaram que era uma ótima “escola” para para depois engrenar em agência e eu resolvi tentar. Passei na prova, gostei do lugar e da localização (Av. Paulista é sempre ótimo para quem não tem carro) e por lá fiquei.
Desde o início do estágio aprendi muito. É aquilo, na prática aprendemos muito mais do que anos na faculdade. Percebi que pesquisa quantitativa pode ser tão interessante quanto qualitativa e aprendi a ter mais atenção e pacicência. Além das metodologias, da força no mercado, a Millward Brown também me conquistou pelas pessoas e pelo ambiente de trabalho em geral.
Mesmo adorando, depois de 11 meses me vi naquela ansiedade de Geração Y em querer “tentar outras coisas” antes de me formar. Então, fui para a Inteligência de Mercado na Whirpool. Uma super empresa com muitas oportunidades de carreira onde trabalhei com gente muito boa. Mas lá me vi longe do meu principal objetivo, planejamento em agência, e acabei resolvendo sair depois de apenas 5 meses.
Não foi a melhor idéia: era início da crise de 2008, faltavam 5 meses para eu me formar (aquela fase que ninguém contrata como estagiário e ninguém aceita com carteira assinada) então fiquei sem emprego e sem dinheiro. Depois de um tempo, entre um almoço e outro, acabei voltando para a Millward Brown, como freela.
Posso dizer que a minha turma não foi das mais sortudas. Nosso diploma saiu no mesmo dia que a crise mundial começou, muita gente ficou como freelancer e alguns outros desempregados, nada legal depois de 4 anos de ESPM.
– Conte brevemente seu percurso profissional após a graduação.
Depois de quase 3 anos de formada, minha vida após graduação não é muito agitada. Fui efetivada na Millward Brown como Analista Jr e lá continuo, agora como Analista Pleno.
– Agora, conte-nos sobre o processo de sua vinda para Londres e sobre sua condição de trabalho atual (empresa em trabalha, área de atuação, principais atividades que executa, a quem responde hierarquicamente) e perspectivas futuras nesta empresa e no mercado de trabalho.
Eu sempre tive vontade de morar fora, mas não tinha grana para largar tudo e fazer uma viagem ou algum curso, era uma idéia que vivia na minha cabeça, mas não sabia como realizar. A Millward Brown é uma empresa inglesa, mas hoje está em mais de 100 países, vira e mexe tem vagas pelo mundo.
No ano passado eles abriram um programa piloto para todos os países. A idéia era enviar 20 pessoas que estivessem na empresa há mais de 2 anos para outro país, por 6 meses. A parte boa é que seria tudo pago, a parte ruim é que não podia escolher o lugar. As opções eram Madrid, Buenos Aires, Chicago, Warwick, Singapura e Changai. Me inscrevi e fui escolhida para vir para Warwick, onde é a cede da empresa.
A Millward Brown é famosa por suas metodologias de pesquisa para pré teste de comunicação, pós teste, tracking de marca, entre outras. Meu trabalho aqui é basicamente o que já fazia no Brasil, Client Service. O que eu faço é desenvolver questionários, analisar resultados e ajudar o cliente (marketing) a tomar decisões com base nas nossas pesquisas. Acho sempre interessante saber das marcas, o que as pessoas pensam delas, ou como elas pensam sobre os consumidores.
Hoje meu cliente principal é Unilever. Como empresa global, a Unilever tem muitas de suas coordenações centralizadas aqui na Inglaterra, o que tem sido interessante. Por um lado aprendo sobre culturas diferentes (Thailandia, China, India, Inglaterra, Suecia), e por outro, trago um olhar mais brasileiro para eles.
Fora isso, trabalhar com pessoas com uma cultura tão diferente da nossa é um aprendizado diário. Parece que cresci 2 anos em 3 meses. É necessário mudar o ritmo (nesse caso acelerar muito mais), rever a rotina (eles preferem não ter hora de almoço para sair mais cedo), não perder o horário (pontuais!!!) e abrir a mente para muitos processos diferentes (tem reunião para tudo). Muitas vezes tudo isso é difícil, como qualquer processo, mas quando você consegue ver que está conseguindo sair da zona de conforto, é o máximo.
Uma coisa que me deixa realizada é ver que estou aprendendo muito sem precisar sair de uma empresa que gosto de trabalhar, tanto pelo assunto quanto pelas pessoas. Hoje não é muito comum ver alguém (com 24 anos) na mesma empresa há quase 4 anos.
– Falando de futuro, como planeja dar continuidade ao seu aperfeiçoamento profissional? Pretende continuar os estudos? Em que área e universidade?
Volto para São Paulo em Dezembro e com certeza ainda fico mais um bom tempo na Millward Brown.
Em paralelo, quero voltar a estudar. Estou pesquisando alguns cursos de mestrado, para começar no segundo semestre de 2012 para futuramente dar aula em faculdades, que é uma coisa que sempre tive vontade.
– Como você avaliaria a participação da ESPM em sua formação acadêmica e profissional?
A ESPM foi super importante na minha formação. Tive ótimas aulas onde aprendi muitos conceitos que uso hoje, como de mídia e marketing. Além disso, tive bons professores que deram uma boa visão de mercado, o que me ajudou e me ajuda muito.
Por fim, acho que ter ESPM no curriculo pode ser muito bom, pelo menos como porta de entrada.
– Para finalizar, em que você acredita que a ESPM poderia ter colaborado mais em sua formação? O que faltou em seu curso, em sua opinião?
Acho que sempre tem o que melhorar. As aulas de Pesquisa de Mercado, por exemplo, poderiam ser mais dinâmicas, com mais pratica e menos teoria. A verdade é que muitos conceitos ensinados não são usados no mercado e acabam assustano as alunos que saem de lá achando pesquisa muito chato, pelo menos a quantitativa.
Talvez trazer mais profissionais da área, ou cases reais, pode ser uma boa idéia. E isso vale não só para pesquisa. Trazer a realidade para a sala de aula acaba ajudando os alunos a entender mais o mercado. No nosso meio há muitas opções e muita gente acaba perdido quando se forma, sem saber no que focar.
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