quinta-feira, 30 de junho de 2011

Egressos ESPM na Inglaterra II - Bate-papo em Windsor com Marisa Tayti


Em uma tarde tipicamente inglesa com vento frio e mudanças repentinas de tempo, visitei a simpática e bucólica Windsor. Para uma cidade que nasceu para atender às necessidades do conhecido castelo, Windsor é mais do que parada obrigatória não só para turistas, mas também para os que aqui ficam apenas por um tempo como eu. O Tamisa passa calmamente na cidade e compõe a paisagem juntamente com o imenso castelo no topo da colina. Além do rio e do castelo, Windsor também é conhecida por se localizar próxima ao importante Eton College.
Neste cenário, entrevistei Marisa Tayti, designer de embalagem e ex-aluna do curso de Comunicação Social da ESPM que, atualmente, trabalha em uma empresa inglesa de Design de Embalagens e Branding chamada 1HQ localizada na cidade de Windsor.

Confira o perfil e a trajetória de Marisa Tayti, 30 anos, egressa da turma de 2002 do curso de Comunicação Social da ESPM – São Paulo.

João: Conte, brevemente, sua trajetória pessoal e escolar até ingressar na ESPM (cidade de origem, colégio em que estudou, opções de curso e escolhas para o vestibular, o processo de seu vestibular etc.)

Marisa: Nasci em São Paulo capital, em 1980. Sou a terceira geração de imigrantes japoneses, ou seja, meus avós imigraram pro Brasil quando ainda crianças, e assim como eu, meus pais nasceram no Brasil.
Entrei na escola aos 4 anos de idade, no Colégio Anglo Latino, no bairro da Aclimação. Nunca fui uma aluna exemplar, sempre tive notas na média, algumas abaixo e poucas acima. Meus pais nunca me falaram muito de carreiras profissionais, o que eu sabia era o que eu via na minha família.
Minha mãe é formada em Arquitetura pela USP, mas sempre trabalhou como estilista de moda.
Meu pai é formado em Engenharia Civil pela USP, mas sempre trabalhou em bancos na área de sistemas.
Eu acho que as minhas escolhas se basearam nas pessoas ao meu redor. Primeiro a minha mãe, ela sempre estimulou a minha criatividade, mas por alguma razão nunca pensei em trabalhar com moda ou arquitetura. Talvez fosse o medo de nunca ser tão boa como ela. Aí, tem a minha prima de segundo grau, 8 anos mais velha que eu, mas que eu achava "descolada". Ela fez publicidade na USP.
E em terceiro, se eu não estiver me esquecendo de ninguém, vem a minha irmã mais velha formada em Medicina.
Na minha família sempre teve uma 'certa' obrigação para se fazer faculdade, e uma leve pressão implícita para ser na USP.
Bom, para resumir, nos meus últimos anos de colegial, eu resolvi prestar medicina. Fiz cursinho semi-intensivo junto com o colégio e pensava que queria ser ou ortopedista ou cirurgiã plástica. E que na pior das hipóteses, não tinha como dar errado, afinal nunca tinha visto médico pobre. Prestei só FUVEST e não passei.
Daí, entrei pro cursinho de novo e, dessa vez, meu pai falou: "Ainda bem que você não passou, né?". Querendo dizer que eu estava 'viajando' em prestar Medicina, e eu concordo, foi um alívio! Dessa vez estudei pra Publicidade e queria ser diretora de arte. Era 1998 e prestei FUVEST e ESPM. Reprovei na FUVEST e passei na ESPM, em 15º!

João: Agora, conte-nos como foi seu período de curso na ESPM (lembranças que carrega da graduação, primeiros dias de aula, os semestres, a ida para a noite, o início de estágio, atividades na escola, estágios realizados, opção de carreira – escolha de minor, PGE etc.)

Marisa: Eu lembro que o que eu mais gostei da ESPM é que não era assustadora, parecia um colégio, um ambiente familiar. A turma era bem normal também, a grande maioria de São Paulo capital mesmo, classe média, uma turma bem homogênea. O que eu acho interessante é que eu sempre fui minoria oriental tanto no colégio quanto na faculdade, talvez por não ter entrado nas 'melhores' instituições como Etapa/Bandeirantes ou USP. Mas, acho melhor assim, não gosto do rótulo de “nerd”, mesmo porque nunca se aplicou a mim.
Eu me lembro de ter achado as aulas muito interessantes, Marketing, Psicologia, Lógica, História da Arte, Ética ... eram assuntos em aula que, pela primeira vez na vida, não me entediavam! (Como eu odiei escola e cursinho! só depois que eu pude perceber)
Eu gostei mais das aulas teóricas do que das práticas tais como Informática e Fotografia. No primeiro ano de faculdade, eu dava aula de Inglês numa escola de bairro e depois consegui um estágio numa empresa de informática, no departamento de Marketing. Eu me lembro de não ter sido muito fácil a fase das entrevistas, dinâmicas de grupo, mandar currículo etc. Nunca consegui passar em nenhuma dinâmica de grupo, ainda é um mistério para mim. Lembro de ter tentado todas as empresas grandes como Unilever, Elma Chips, Johnson & Johnson ...
Bom, depois dessa empresa de informática fui parar num portal de internet. Eu acho que foi através da Catho. Era bacana, lá na Vila Olímpia, mas envolvia muitas planilhas de Excel e eu sentia que não era bem o que eu gostaria de fazer. Depois de um tempo apareceu a oportunidade de um estágio em uma agência de marketing esportivo chamada Promosports. Também não deu certo. Durei alguns meses apenas e, em seguida, consegui um estágio com a art buyer da Newcommbates (atual Y&R). Quando esse estágio terminou, fui para a B\Ferraz, uma agência de eventos, meu primeiro estágio na Criação! Estava ficando quente. Naquela época a gente atirava para todos os lados, mandava currículo para tudo que é agência de publicidade, até que fui chamada na Neogama. Chegando lá, descobri que era para ser estagiária de atendimento da Issa DA, a agência de design da esposa do Alexandre Gama. Nem preciso falar que não deu certo porque se não nasci pra trabalhar em Atendimento, então era como ter um pesadelo acordada. Após 3 meses de muito perrengue, me mandaram embora, mas a Cláudia Issa me deu uma lista de nomes que era para eu entrar em contato e falar que eu era indicação dela.
A primeira agência da lista a 100% Design, me ofereceu um estágio logo de cara. E eu lembro claramente de ter a sensação de finalmente estar me encontrando... Foi assim que entrei pro mundo do design de embalagem que estou até hoje. A história não acaba aí, mas esse foi o meu último estágio e, logo depois, fui contratada como designer junior pela Design Absoluto.
Eu acho que a prática foi o que mais me ensinou sobre minhas vocações, mas a faculdade é um processo importante de amadurecimento, de convívio (cervejadas!), aprendizado de trabalho em equipe (lê-se PGE), dedicação e comprometimento. No meu caso específico, analisando a minha carreira hoje em dia, se eu pudesse escolher de novo, teria feito um curso mais ligado à arte, talvez arquitetura ou desenho industrial.

João: Conte brevemente seu percurso profissional após a graduação.

Marisa: Depois de formada, fiquei ainda 2 anos estagiando, até conseguir o emprego na Design Absoluto como designer de embalagem junior. Entrei na carreira totalmente por acaso, mas parecia que eu já tinha nascido fazendo aquilo, foi gostoso me encontrar profissionalmente. Depois de quase 2 anos, surgiu a oportunidade de fazer um estágio numa agência na Inglaterra, chamada Vibrandt (hoje se chama 1HQ), foi assim que pedi demissão e vim de mala e cuia em 2006. Comecei estagiando de graça, fiquei 6 meses só de café-com-leite, tentando melhorar meu inglês e aproveitando pra curtir a vida. Finalmente me ofereceram um emprego e fui promovida mais 2 vezes depois disso e hoje sou senior designer, especializada em embalagem.
Mas viajar foi com certeza o que abriu a minha cabeça. Fiz cursos em Nova York e Londres, e eu achei uma ótima maneira de conhecer pessoas, fazer contatos.

João: Agora, conte-nos sobre o processo de sua vinda para Londres e sobre sua condição de trabalho atual (empresa em trabalha, área de atuação, principais atividades que executa, a quem responde hierarquicamente) e perspectivas futuras nesta empresa e no mercado de trabalho.

Marisa: A 1HQ é especializada em branding e design de embalagem e produto. A grande maioria dos nossos clientes é de FMCG (fast moving consumer goods), sendo eles Unilever, Premier Foods, Nestlé.
No geral trabalhamos em duplas ou trios e, sendo Senior, em projetos pequenos eu gerencio middle-weights e juniors, além de ilustradores (visualisers), e apresento projetos pra clientes. Em todos os projetos eu sou supervisionada pelos design directors e/ou diretora de criação. No momento eu gostaria de investir na minha carreira de senior, pra daqui a uns 3/4 anos chegar à posição de design director. Nessa ou em outra empresa.

João: Falando de futuro, como planeja dar continuidade ao seu aperfeiçoamento profissional? Pretende continuar os estudos? Em que área e universidade?

Marisa: Eu gostaria de me aperfeiçoar como designer gráfica. Já pensei em estudar mais artes visuais gráficas tais como tipografia, ilustração e fotografia. Mas, também entender um pouco mais da natureza humana, por isso pensei em estudar semiótica.

João : Como você avaliaria a participação da ESPM em sua formação acadêmica e profissional?

Marisa: Poderia ter sido melhor. Acho que entre fazer ESPM e não fazer faculdade, eu fico com a primeira opção porque faculdade, no geral, é um ótimo jeito de fazer networking social e profissional, que no fim das contas é fundamental hoje em dia na área de comunicação. Mas, eu sinto falta de não ter estudado arte.

João: Em que você acredita que a ESPM poderia ter colaborado mais em sua formação? O que faltou em seu curso, em sua opinião?

Marisa: Mais palestras de profissionais da área.

João: Quais seriam suas dicas para os alunos de Comunicação que pretendem trabalhar em criação de embalagens?

Marisa: Manter-se muito informado, ler bastante, colecionar coisas, ser muito curioso, sabe? Viajar bastante, não ter medo de mudar de carreira, tomar riscos, tentar se auto-conhecer.

João: Algumas frases interessantes de Marisa, ditas informalmente depois da entrevista.

Marisa: Sobre sua decisão de trabalhar em criação. - Quando entrei na faculdade, não sabia direito o que queria fazer. Só sabia que eu gostava de desenhar.

João: Sobre sua entrada na empresa 1HQ em Windsor. - Acho que eu negociei mal quando comecei. - Eu fiquei tão honrada por me oferecerem o emprego que aceitei na hora. Nem pesquisei como estava o mercado.

Marisa:
Sobre sua carreira na Inglaterra.
- É estranho pensar o que te trouxe até aqui. Você não planeja. - Eu não planejei ficar por cinco anos. Foi indo. - O caminho até aqui foi tortuoso. - É preciso pensar o que você quer. Visualizar.

Sobre a vida na Inglaterra.
- Tudo fica mais amplificado quando você está aqui. Diminui e intensifica o tempo todo. - Às vezes, eu me sinto em uma bolha aqui. - Aqui você esquece seu padrão de vida. - Você baixa a bola.

Sobre o mercado de trabalho na Inglaterra.
- Aqui o mercado oscila muito. - As empresas têm uma vasta carteira de free-lancers. - Muita gente trabalha seis meses, viaja seis meses.

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