quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Egressos ESPM na Inglaterra III - Marina Braga


Marina é uma ex-aluna da ESPM que, depois de formada, passa por uma experiência internacional em sua carreira. A egressa do curso de Comunicação Social da ESPM nos conta um pouco de sua trajetória, seus planos e suas experiências aqui na Inglaterra. Vale acompanhar um pouco da história desta sempre bem-vinda ex-aluna da ESPM.

– Conte, brevemente, sua trajetória pessoal e escolar até ingressar na ESPM (cidade de origem, colégio em que estudou, opções de curso e escolhas para o vestibular, o processo de seu vestibular etc.)

Bom, eu nasci e fui criada em São Paulo. Estudei a vida toda no Colégio Palmares, o que me deu uma boa base e alguns traumas. Nunca fui uma boa aluna, sempre fui da turma da recuperação. Meu negócio era organizar as festas, grupo de teatro, competições esportivas e nada de sentar para estudar.

Escolher o que prestar no vestibular foi fácil, sabia que queria publicidade. Meus pais são publicitários, formados pela ESPM, e eu sempre me interessei pelo trabalho deles. Minha mãe é freela de Pesquisa de Mercado, trabalhou muito em casa e me envolveu nos projetos dela. Eu ajudava nas apresentações, lia os relatórios, via as colagens, etc. Sempre gostei.

Prestei ESPM e USP. Quando prestei ainda não tinha nem passado de ano, eu realmente me dedicava às recuperações. Acho que isso me deixou mais relaxada para a prova (achava que não ia passar mesmo), e acabei passando de primeira na ESPM. Bom, a USP precisava um pouco além de estar relaxada, então não rolou mesmo.

– Agora, conte-nos como foi seu período de curso na ESPM (lembranças que carrega da graduação, primeiros dias de aula, os semestres, a ida para a noite, o início de estágio, atividades na escola, estágios realizados, opção de carreira – escolha de minor, PGE etc.)

A primeira (e melhor) coisa que a ESPM me proporcionou foi meu ciclo de amizade. Desde o primeiro dia de aula conheci pessoas com quem tenho o prazer de conviver até hoje. Daquelas pessoas que parece que você conhece desde a infância. Verdadeiros amigos!

Entrar na ESPM foi finalmente estudar assuntos do meu interesse e como consequência, pela primeira vez na vida, ter boas notas. Além de assuntos que gostava, o que fez a diferença foi ter mais trabalhos e menos provas, bem diferente do colégio. Descobri que meu negócio é trabalhar em grupo, conversar, apresentar, ou seja, algo mais dinâmico do que estudar sozinha.

Não posso dizer que fui uma excelente aluna até o final do curso. No meio do caminho apareceram algumas matérias não tão interesantes que me tiraram um pouco do sono, como finanças e estatística. Peguei DPs e passei raspando algumas vezes. Mas com certeza uma boa aluna posso dizer que fui. Me formei nos esperados 4 anos, para alegria dos meus pais que não aguentavam mais pagar a mensalidade.

Também aproveitei muito o “social” na ESPM. Passei tardes na quadra, joguei handball e volei, joguei Intercalouros, Jogos Mix, fui a todos os Economiadas, fui a todas as festas, cervejadas, assisti Bixo Cross e Miss Bixete, trabalhei na Agência ESPM, fui da Comissão de Formatura, enfim, aproveitei o que pude.

Quando fui para noite não procurei estágio imediatamente. Fiquei 3 meses em casa estudando inglês para me preparar melhor. Foi ótimo, mas esse é um período que você começa a ver um pouco de competição entre os alunos, todos em busca de uma ótima empresa. Nessa pressão (mesmo que disfarçada) achei melhor começar as entrevistas. Me inscrevi para algumas empresas, mas meu foco era agência, queria planejamento. No meio do caminho me deparei com uma prova para trabalhar na Millward Brown. Não tinha a menor idéia do que era, mas as amigas da minha mãe, de planejamento, falaram que era uma ótima “escola” para para depois engrenar em agência e eu resolvi tentar. Passei na prova, gostei do lugar e da localização (Av. Paulista é sempre ótimo para quem não tem carro) e por lá fiquei.

Desde o início do estágio aprendi muito. É aquilo, na prática aprendemos muito mais do que anos na faculdade. Percebi que pesquisa quantitativa pode ser tão interessante quanto qualitativa e aprendi a ter mais atenção e pacicência. Além das metodologias, da força no mercado, a Millward Brown também me conquistou pelas pessoas e pelo ambiente de trabalho em geral.

Mesmo adorando, depois de 11 meses me vi naquela ansiedade de Geração Y em querer “tentar outras coisas” antes de me formar. Então, fui para a Inteligência de Mercado na Whirpool. Uma super empresa com muitas oportunidades de carreira onde trabalhei com gente muito boa. Mas lá me vi longe do meu principal objetivo, planejamento em agência, e acabei resolvendo sair depois de apenas 5 meses.

Não foi a melhor idéia: era início da crise de 2008, faltavam 5 meses para eu me formar (aquela fase que ninguém contrata como estagiário e ninguém aceita com carteira assinada) então fiquei sem emprego e sem dinheiro. Depois de um tempo, entre um almoço e outro, acabei voltando para a Millward Brown, como freela.

Posso dizer que a minha turma não foi das mais sortudas. Nosso diploma saiu no mesmo dia que a crise mundial começou, muita gente ficou como freelancer e alguns outros desempregados, nada legal depois de 4 anos de ESPM.

– Conte brevemente seu percurso profissional após a graduação.

Depois de quase 3 anos de formada, minha vida após graduação não é muito agitada. Fui efetivada na Millward Brown como Analista Jr e lá continuo, agora como Analista Pleno.

– Agora, conte-nos sobre o processo de sua vinda para Londres e sobre sua condição de trabalho atual (empresa em trabalha, área de atuação, principais atividades que executa, a quem responde hierarquicamente) e perspectivas futuras nesta empresa e no mercado de trabalho.

Eu sempre tive vontade de morar fora, mas não tinha grana para largar tudo e fazer uma viagem ou algum curso, era uma idéia que vivia na minha cabeça, mas não sabia como realizar. A Millward Brown é uma empresa inglesa, mas hoje está em mais de 100 países, vira e mexe tem vagas pelo mundo.

No ano passado eles abriram um programa piloto para todos os países. A idéia era enviar 20 pessoas que estivessem na empresa há mais de 2 anos para outro país, por 6 meses. A parte boa é que seria tudo pago, a parte ruim é que não podia escolher o lugar. As opções eram Madrid, Buenos Aires, Chicago, Warwick, Singapura e Changai. Me inscrevi e fui escolhida para vir para Warwick, onde é a cede da empresa.

A Millward Brown é famosa por suas metodologias de pesquisa para pré teste de comunicação, pós teste, tracking de marca, entre outras. Meu trabalho aqui é basicamente o que já fazia no Brasil, Client Service. O que eu faço é desenvolver questionários, analisar resultados e ajudar o cliente (marketing) a tomar decisões com base nas nossas pesquisas. Acho sempre interessante saber das marcas, o que as pessoas pensam delas, ou como elas pensam sobre os consumidores.

Hoje meu cliente principal é Unilever. Como empresa global, a Unilever tem muitas de suas coordenações centralizadas aqui na Inglaterra, o que tem sido interessante. Por um lado aprendo sobre culturas diferentes (Thailandia, China, India, Inglaterra, Suecia), e por outro, trago um olhar mais brasileiro para eles.

Fora isso, trabalhar com pessoas com uma cultura tão diferente da nossa é um aprendizado diário. Parece que cresci 2 anos em 3 meses. É necessário mudar o ritmo (nesse caso acelerar muito mais), rever a rotina (eles preferem não ter hora de almoço para sair mais cedo), não perder o horário (pontuais!!!) e abrir a mente para muitos processos diferentes (tem reunião para tudo). Muitas vezes tudo isso é difícil, como qualquer processo, mas quando você consegue ver que está conseguindo sair da zona de conforto, é o máximo.

Uma coisa que me deixa realizada é ver que estou aprendendo muito sem precisar sair de uma empresa que gosto de trabalhar, tanto pelo assunto quanto pelas pessoas. Hoje não é muito comum ver alguém (com 24 anos) na mesma empresa há quase 4 anos.

– Falando de futuro, como planeja dar continuidade ao seu aperfeiçoamento profissional? Pretende continuar os estudos? Em que área e universidade?

Volto para São Paulo em Dezembro e com certeza ainda fico mais um bom tempo na Millward Brown.

Em paralelo, quero voltar a estudar. Estou pesquisando alguns cursos de mestrado, para começar no segundo semestre de 2012 para futuramente dar aula em faculdades, que é uma coisa que sempre tive vontade.

– Como você avaliaria a participação da ESPM em sua formação acadêmica e profissional?

A ESPM foi super importante na minha formação. Tive ótimas aulas onde aprendi muitos conceitos que uso hoje, como de mídia e marketing. Além disso, tive bons professores que deram uma boa visão de mercado, o que me ajudou e me ajuda muito.

Por fim, acho que ter ESPM no curriculo pode ser muito bom, pelo menos como porta de entrada.


– Para finalizar, em que você acredita que a ESPM poderia ter colaborado mais em sua formação? O que faltou em seu curso, em sua opinião?


Acho que sempre tem o que melhorar. As aulas de Pesquisa de Mercado, por exemplo, poderiam ser mais dinâmicas, com mais pratica e menos teoria. A verdade é que muitos conceitos ensinados não são usados no mercado e acabam assustano as alunos que saem de lá achando pesquisa muito chato, pelo menos a quantitativa.

Talvez trazer mais profissionais da área, ou cases reais, pode ser uma boa idéia. E isso vale não só para pesquisa. Trazer a realidade para a sala de aula acaba ajudando os alunos a entender mais o mercado. No nosso meio há muitas opções e muita gente acaba perdido quando se forma, sem saber no que focar.

domingo, 16 de outubro de 2011

Somos o que podemos ser


É incrível como a distância nos faz enxergar as coisas mais de perto. Refiro-me ao Brasil e suas características. O binômio tempo-distância nos deixa enxergar melhor, mais profundamente nosso país, nosso povo. Em outras palavras, podemos nos enxergar com mais precisão quando estamos longe por um bom período de tempo. Difícil dizer quanto tempo, talvez dependa de cada um. Entretanto, hoje tenho convicção de que menos de um ano longe é pouco para deixarmos sedimentar nossos afetos e âncoras emocionais que nos prendem ao nosso país e ao nosso povo. No início, a saudade ou a repulsa é grande demais e ofusca o que sentimos. Alguns não agüentam a distância, enquanto outros se deliciam com ela. Independentemente da direção do afeto, são necessárias as quatro estações do ano para que consigamos, realmente, colocar nossas emoções no lugar sem deixar os muitos ruídos nos atrapalharem. É comum ouvirmos críticas severas ou elogios exagerados na direção de nosso país. O Brasil, muitas vezes, é alvo de projeções dos que estão longe há pouco tempo. Um desemprego, uma frustração amorosa ou uma série de buracos emocionais não tratados podem levar alguns a projetarem estes sentimentos negativos no velho e sincero Brasil. As críticas são feitas com a certeza de que seria possível, ao viajarmos, deixar nossos próprios problemas e frustrações para trás e aí, de longe, criticá-los. Quando tecemos rígidas palavras contra nossa pátria, estamos, na maioria dos casos, criticando severamente a nós mesmos. Estamos falando de um “eu” que esperávamos ter deixado para trás. É preciso tempo para realmente sentir o que sentimos e percebermos que este que achamos que ficou veio junto também. Somos o que podemos ser em qualquer lugar que estivermos.

Depois de vivido ao menos um ciclo de quatro estações, estamos capacitados a perceber o que realmente sempre fomos, o que realmente nosso país e nossa gente significam para nós. Se depois disso ainda continuamos com alguma repulsa à nossa gente e ao nosso estilo de vida, a decisão é fácil: imigrar de vez, ficar para sempre onde estivermos. É muito bom sair de casa, conhecer lugares e pessoas. É muito importante para nosso crescimento perceber como diferentes culturas lidam com os afetos, com as necessidades humanas. Aprendemos muito neste processo, crescemos demais. Mas, um, dois, dez ou vinte anos longe de casa não podem são suficientes para destruir o que realmente somos, de onde viemos e para onde, um dia, devemos voltar. Ou temos ou não temos raízes. Não há espaço para o meio-termo. Quando as temos, podemos perceber o quanto é bom sair de casa e, principalmente, sentir o quanto é bom sabermos que sempre teremos para onde voltar

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Viver Londres


Em minha primeira reunião com o professor Daniel Miller, logo que cheguei a Londres, entre as inúmeras coisas que ouvi foi a seguinte frase: “no período em que estiver aqui, aproveite o que Londres tem para oferecer. Aproveite Londres”. Confesso que, naquele momento, entendi esta recomendação da forma que qualquer brasileiro recém-chegado a esta grande metrópole poderia entender. Aproveite significa: conheça a cidade, divirta-se nos pubs, vá aos shows, visite os museus, desfrute dos lindos parques, viva a diversidade cultural que se nas ruas e por aí vai.
Ao longo de minha convivência com o professor Miller e, simultaneamente, com a cidade de Londres, percebi que aquela recomendação ia bem além do que eu imaginava. “Aproveite Londres” tinha um sentido mais acadêmico, um tom mais profundo. Logicamente que os parques, os museus, os pubs e as outras atrações da cidade são parte de uma importante experiência Londrina, mas só isto não basta. Esta cidade oferece bem mais. Suas universidades, escolas, centros de pesquisa e instituições governamentais são lugares a serem mais freqüentados por quem por aqui passar uma temporada. É comum ouvirmos de nossos jovens a seguinte frase “quando eu morei em Londres …”, independentemente do número de meses que este esteve por aqui. Sabemos que viver aqui é, entre os brasileiros, é objeto de desejo juvenil, pode trazer distinção no chamado terceiro mundo. Voltar ao Brasil vestindo um estilo londrino, exibindo um sotaque mais britânico, trazendo na mala várias histórias do dito primeiro mundo para contar e mostrando um portfólio invejável de fotos tiradas no Reino Unido é um sonho e tanto de consumo. Quase impossível não se sentir seduzido por este objeto de desejo.
Talvez pela idade que sempre traz mais reflexão e também pela raiz extremamente caipira que me alicerça neste mundo, pude ouvir e experimentar a sugestão do professor Miller. Apesar de voltar com dois dos quatro itens que citei acima - boas histórias e muitas fotos – consegui viver Londres em minha medida. Hoje tenho convicção de que viver Londres é mais do que morar aqui, é levar de volta a cidade dentro de você. Aprender a pegar os lindos ônibus de dois andares, andar nos corredores do tube, a falar uma ou outra gíria Londrina, poder recomendar algum Pub aos amigos e comentar sobre a instabilidade do clima local é tarefa para qualquer pessoa que por aqui passa alguns dias. Absorver uma Londres que é única para cada um de nós é tarefa mais difícil, requer sensibilidade e muito suor.
Agora entendo que o professor Daniel Miller falava sobre viver Londres, aproveitar o que esta cidade pode oferecer após seus longos anos de história. Aliás, o que é bom aqui é o que existe há muito tempo, sua tradição atualizada pela tecnologia. A cada esquina pode-se encontrar algo diferente, algo para se aprender um pouco mais. Sem dúvida, todo estudante ou profissional que, por alguma razão, vá passar um tempo por aqui deve procurar cursos, palestras e professores especialistas em algum tema, além de fazer o trivial. Há uma infinidade de opções de cursos e eventos dos mais diferentes assuntos com diferentes graus de profundidade. Palestras e eventos dos mais variados tipos acontecem no dia-a-dia da cidade. A ideia é experimentar intelectualmente o que a cidade tem a oferecer e que não está nos guias de turismo e nem nos blogs dos visitantes de Londres. Aqui se concentram grandes pensadores contemporâneos. É preciso achá-los. Garanto que, diferentemente do que costumamos vivenciar em nosso país, a maioria destes pensadores recebe-nos com a tranqüila objetividade de um professor e não com a distância de um astro ou estrela da música pop. Uma das mais marcantes experiências que aqui vivo, é poder ter acesso aos freqüentadores de minha bibliografia sem ser tratado como fã de uma celebridade em busca de um autógrafo. Os professores são acessíveis, recebem-nos como parte de seu trabalho. Entretanto, são, em sua maioria, ingleses, guardam sempre certa distância do envolvimento mais afetivo. Sem dúvida, há um ou outro que foge à regra e vive seus momentos de estrelismo, mas são poucos. Autores que são citados por reconhecidos autores brasileiros são mais acessíveis que quem os cita. Certa incoerência que deve ser aproveitada ao máximo. Viver Londres é se aprofundar no que a cidade pode nos dar para nos fazer melhor, é sair daqui com mais do que o idioma bem falado, o conhecimento de meia dúzia de lugares para indicar aos amigos e que o clima aqui varia repentinamente, o que nem sempre é verdade. Viver Londres é aproveitar esta cidade no sentido mais profundo deixando-a entrar de forma personalizada em suas lembranças mais definitivas, sem, é claro, deixar com esta cidade te engula como faz com muitos que aqui chegam e se maravilham com seu lado mais perverso: a imensidão de catedrais do consumo que oferece. Este é o assunto do post anterior. 
Seja um estudante em intercâmbio, um profissional expatriado ou um professor em pesquisa, Londres pode transformar profundamente sua vida, basta ir atrás, não se pode ter preguiça nesta cidade e nem tampouco se ver seduzido apenas pelas suas inúmeras opções de diversão. Cuidado! Londres pode tirar o melhor de nós, mas também pode trazer à tona o que temos de pior. É preciso atenção para aproveitar o que este paraíso cultural tem a oferecer.