sábado, 26 de fevereiro de 2011

Aula com professor Danny Miller no mestrado em Antropologia Digital

Na última quinta-feira (24/02), o professor Daniel Miller ministrou uma de suas aulas aos alunos do mestrado em antropologia da UCL. Assistiram a aula alunos do mestrado em Antropologia Digital e também dos outros mestrados oferecidos pela escola. Estávamos também presentes, eu e a Beth Goidanich que é doutoranda-sanduíche do programa, assim como eu.
O professor Danny Miller apresenta suas aulas de uma forma pouco típica. Em sala de aula fala durante uma hora sobre o tema da aula e depois discuti com os alunos as leituras feitas previamente no PUB Jeremy Bentham ao lado da universidade. Neste PUB é reservada uma sala, onde os alunos fazem suas colocações e tiram suas dúvidas com professor que se senta em uma mesa no canto da sala e fica à disposição dos alunos. Esta segunda parte tem duração de uma hora exatamente, depois o professor convida a todos para tomar uma pint e se despede deixando os alunos com muito assunto para discutir entre si. Daniel Miller afirma que um bom antropólogo deve gostar de conhecer e conversar com pessoas diferentes, o tempo todo. Os caminhos metodológicos da antropologia passam pela necessidade de socialização. Esta prática após a aula tem este objetivo, aumentar o contato entre os alunos dos diferentes programas em antropologia e instigar a discussão entre eles.
Nesta aula que citei, o professor Daniel Miller dissertou sobre o consumo. Foi uma aula introdutória a respeito do tema, já que era a primeira do programa que abordava os conceitos do mundo do consumo. Miller percorreu várias linhas de pensamento de diferentes autores, desde Bourdieu até Simmel, passando por Mary Douglas, entre outros. As ideias e conceitos sobre consumo trazidos pelo professor Miller nesta aula não são novidade, já que estão em sua vasta obra, mas sempre causam um certo desconforto a quem entende o consumo simplesmente como etapa final do pensamento capitalista e o vê apeanas ligado ao binômio produção-demanda. O consumo além deste binômio causa certo incômodo em estudantes que ainda não se aprofundaram na questão do consumo como propõe o professor Daniel Miller, um pouco mais distante deste olhar econômico e ligado ao individualismo, à ganância e à auto-promoção.
No final da aula, encontrei-me com alguns brasileiros que também participavam da aula e fomos comer comida Thailandesa ao lado da Goodge Street. Uma noite muito agradável: boa companhia, bom papo e boa comida.

Londres querendo deixar o inverno para trás




Londres começa a demonstrar sua vontade de abandonar o mau humor do inverno. Durante esta semana que passou, o Hyde Park já demonstrava sintomas deste desejo. Um tímido sol já tentava demonstrar que pode vir para mudar o céu cinza, as garoas constantes e o vento gelado que insiste em nos "congelar" enquanto caminhamos pelas ruas londrinas.

Entretanto, logo o real nos trouxe novamente a chuva e o mau tempo. Bom motivo para estudar, ler e visitar os gratuitos museus da cidade. O museu de história natural de Londres é um pouco mais tímido que o de Nova Iorque, mas é mais aconchegante. Oferece uma interatividade às crianças que fascina os adultos e nos entretem por horas e horas sem podermos perceber que o tempo se foi. Além de excelentes aulas de biologia, ecologia, geografia e história, este museu também nos ensina metodologia científica. Foi inevitável ficar alguns minutos assistindo a uma apresentação de uma cientista sobre como apresentar um paper científico. Boa aula de metodologia.
Uma boa estratégia de estudo por aqui parece precisar contar com a visita semanal a um museu. Custo zero, bens culturais à vontade para serem consumidos, ideias borbulhando diante dos objetos que se apresentam à nossa frente, aprendizado constante. Pretendo instituir como rotina a visita semanal a um museu de Londres, nem que seja por apenas alguns minutos. Além do consumo cultural, estes lugares nos levam a reflexões e indagações bastante interessantes sobre nossas vidas, nosso país, nossa pesquisa etc.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Onde morar por um ano em Londres?

Depois de um mês em Londres, sinto que esta não é uma cidade comum, esta metrópole é múltipla. Sua multiplicidade vai além da variedade de cores de pele, idiomas falados e trajes típicos de muitos lugares com que nos deparamos pela rua e que lemos nos guias de turismo como sua característica principal. Há, na realidade, muitas possíveis e diferentes percepções de Londres dentro de cada um que a visita ou vive por aqui. Há muitas Londres circulando pelo imaginário dos indivíduos que circulam pelas suas ruas e, também, dos que estão bem distante daqui.
Londres é barulhenta, corre o tempo todo, é fria. Londres é ao contrário, está espelhada, os carros circulam do lado “errado”. Londres não olha nos olhos. Em Londres tudo está à venda, em Libras. Londres é onde os museus são gratuitos. Londres não é para os mais velhos, é das crianças. Londres não tem mais espaço, mas cresce o tempo todo, não dorme um só minuto. Londres fecha cedo. Londres nunca fecha. Londres é cinza esverdeada. Londres não tem cor.
Nesta cidade, as pessoas se trombam sem nunca se tocar, a vida corre na velocidade dos atropeladores de velhinhas dos corredores das estações do metrô. Os territórios destas estações não têm dono, são não-lugares de muita gente correndo, correndo. Tudo tem que ser feito no horário, mas às pressas, como se se estivesse sempre atrasado. Há uma salada de incoerências que fascina ao mesmo tempo em que assusta, à moda das grandes metrópoles. Esta cidade recebe muito bem, basta ter muitas libras e um generoso cartão de crédito. Mas, também pode receber de braços abertos, basta sempre preservar o direito do outro de nunca se importar com você. Entretanto, em momentos que só o acaso pode nos dar, surgem figuras afetivas, preocupadas com o outro. Crianças e idosos simpáticas, policiais educados, profissionais que prestam bons serviços.
Londres é uma cidade múltipla. Há a Londres dos turistas, dos estudantes em intercâmbio, dos acadêmicos, dos imigrantes, dos próprios Londrinos, dos ingleses não-Londrinos. Cada uma é uma cidade diferente, mas que tenta conviver com as outras em um lugar de pouco espaço.
Alugar um flat aqui foi uma aventura e tanto. Trinta dias para o acaso nos trazer um casal de idosos que valeu a espera. Nada muito barato não, talvez isto nem exista por aqui. Mas, atentos às nossas necessidades e sem nos olhar como se fossemos um casal de ETs recém-chegados de outro planeta e que poderia fugir no segundo mês de aluguel. Finalmente, um flat limpo, com excelente claridade, espaçoso e muito bem localizado. Este será pago do jeito que deveria ser: a cada mês de uso. Mrs. Penelope e Mr. Charles são presentes dos céus pelo nosso tempo de busca. A sincronicidade nunca nos abandonou. Não foi desta vez, ainda bem.
Em Londres os corretores querem tudo adiantado. O proprietário é soberano, exige muito e dá pouco em troca, quase nada. Ele se apresenta como “sócio da família real”, tem concessão da terra da rainha. A negociação não existe no entender dos negócios imobiliários ingleses. Entendem desconto como depreciação do que está sendo vendido ou incapacidade do locatário em pagar o valor imposto pelo soberno proprietário. Se um grande criminoso ou terrorista chegar por aqui com muito dinheiro aluga qualquer flat, casa ou apartamento, sem precisar apresentar qualquer antecedente. Se um professor-pesqusiador em seu doutorado-sanduíche tenta alugar um flat com sua bolsa que cobre tranquilamente o valor do aluguel, tem que adiantar seis meses para garantir o imóvel. Esta é muito boa.
Estes negociadores de imóveis nunca viveram um período de inflação. As crises por aqui aconteceram há séculos. A mão-de-obra é cara, poucos querem fazer o trabalho sujo, talvez seja por isso que a sujeira se espalha pelas ruas da cidade e pelos banheiros por aí. Londres é linda, ao mesmo tempo é feia. Tudo depende de quem a olha e sob que estado de espírito o faz.

Jantar de confraternização com prof. Daniel Miller


Elegantemente, o prof. Daniel Miller convidou a todos os brasileiros (e seus acompanhantes) que, de alguma forma, estão ligados a ele aqui em Londres. Estávamos em dois doutorandos em processo de sanduíche orientados pelo próprio prof. Miller, um aluno de seu curso de mestrado em Antropologia Digital e uma doutora que já havia cursado seu doutorado-sanduíche na UCL.
Foi uma noite bastante agradável porque o professor nos convidou para um "comes e bebes" em sua casa antes de irmos ao restaurante. Eles nos pediu que fizéssemos caipirinha para ele. Esta foi servida com um delicioso pão feito pelo próprio antropólogo acompanhado de deliciosas guloseimas.
Depois jantamos em um restaurante brasileiro em Finchley, bairro tipicamente judeu, onde mora o professor. A comida estava deliciosa. Também, a cozinheira era uma mineira de verdade: coxinha, pão de queijo, feijoada, paçoca.
Apesar de sempre ouvir aquelas perguntas julgadores e de senso comum: "você sai do Brasil para ir comer comida brasileira no exterior?" ou pior "você vai para Londres para comer comida brasileira?". É que comida internacional eu como no Brasil. Sabemos que São Paulo é a melhor cidade do mundo em relação à culinária mundial, apesar de me contradizer um pouco ao descobrir que Londres também tem culinárias, principalmente asiáticas, maravilhosas.
Gosto sempre de visitar restaurantes brasileiros em outros locais do mundo. Eles nunca são verdadeiras simulações de Brasil. São simulacros de partes de nosso país adaptados a partir das receitas que usam os ingredientes disponíveis e do gosto dos fregueses locais. Comer uma feijoada em Londres, acredite em mim, não é apenas uma experiência tupiniquim de um brasileiro que está com saudade de casa, pode ser uma aventura antropológica no sentido mais estrito desta disciplina. Observar com olhar menos arrogante e sem deslumbramento pode nos levar a entendender alguns de nossos marcadores identitários. Ver os ingleses comendo feijoada, brigadeiro, pão de queijo é muito interessante. Quem estuda com mais profundidade o consumo, sabe que estas questões não passam apenas pela superfície da falta de adaptação ao local, saudade de casa etc. Ser pesquisador no mundo do consumo é se socializar, gostar de pessoas, experimentar lugares, mesmo estes sendo próximos ao que conhecemos. Um restaurante brasileiro fora do Brasil não é propriamente um restaurante brasileiro apenas. É um campo vasto de observação para um pesquisador.
Por outro lado, o professor Daniel Miller terminou o jantar com um interessante sorriso de satisfação ao ver que os brasileiros adoram ir a um restaurante brasileiro comer comida típica brasileira feita por uma brasileira que foi abraçada carinhosamente por todos no final do jantar.
Vai explicar para um inglês o porquê dos brasileiros abraçarem a cozinheira depois do jantar. Hahahah! :-)

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Univesity College London


Apesar de iniciar na University College of London apenas no dia 14/02, fui visitá-la na última sexta-feira.

A atmosfera acadêmica que se sente já há alguns metros de lá justifica a fama e o reconhecimento desta tradicional universidade.


Seu entorno é inspirador. Ao menos para mim nestes dias que antecedem meu início por lá que está recheado de expectativas.


Até mais!

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

A Chegada

Na noite de 28, ainda no aeroporto, em meio ao que muitos chamam de caos, pude perceber que esta viagem seria diferente de outras. Não só pelo tempo que ficaria fora e pelo propósito da viagem, mas também pelo seu espírito de investigação. Em uma interminável fila para entrar na área internacional do aeroporto de Guarulhos, percebi que minha forma de perceber aquele momento estava diferente. Não era o entorno que havia mudado, mas o meu olhar sobre ele, mais investigativo, menos condenatório. Passageiros correndo, tensos com a fila. Pouca solidariedade entre as pessoas. Um ambiente hostil, uma energia pesada. É incrível como nestes momentos, em um aeroporto, grande parte do público faz cara de “mau” ao puxar suas bagagens de mão, que insistem em estar fora dos limites de tamanho e de peso. Quanto menos dentro das regras, a mala, mais cara de mau parece fazer seu portador. Senti-me mais observador e menos participante. Tentei me ausentar daquela bagunça, sem idealizar a possibilidade disto acontecer por completo. Consegui, a partir de uma pequena distância, olhar de forma diferente para aquele público que disputava um lugar na fila para, no final, esperar as mesmas horas, apenas para ter a sensação de estar um pouco à frente do outro. Difícil entender a lógica daquela disputa. Também não é fácil manter-se crente diante da possibilidade daquele aeroporto suportar um período de Copa do Mundo... Dia 28 era uma sexta-feira comum.

Com este espírito contaminado pela pesquisa e bem mais leve do que em ocasiões anteriores, embarquei para Londres a caminho de meu doutorado sanduíche. Viagem tranquila, sem muitas surpresas. Entrada no país também. O conhecido mau humor dos funcionários da imigração, uma cara de bobo aqui, um sorry ali e tudo se passou normalmente.

Meus primeiros dias em Londres têm sido como os de qualquer imigrante em uma cidade nova: adaptação. Nos primeiros dias eu me senti uma verdadeira ameba. Alguns micos, algumas situações improvisadas e outras muito enriquecedoras. Por fim, assim têm sido meus dias: muito estudo do inglês; algumas leituras; uma tarde na polícia local para registrar minha permanência por aqui; outra no banco tentando abrir uma conta; muitas caminhadas pela cidade, perdendo-me, achando-me. E, é claro, bastante frio!

Estou no aguardo de meu esperado início na UCL – University College of London – com o professor Daniel Miller, na semana de 14 de fevereiro. Muita expectativa, algumas ideias, muitas vontades e uma sensação de ter acertado na escolha que fiz. Vamos conferindo…

Em breve mando mais notícias.