domingo, 16 de outubro de 2011

Somos o que podemos ser


É incrível como a distância nos faz enxergar as coisas mais de perto. Refiro-me ao Brasil e suas características. O binômio tempo-distância nos deixa enxergar melhor, mais profundamente nosso país, nosso povo. Em outras palavras, podemos nos enxergar com mais precisão quando estamos longe por um bom período de tempo. Difícil dizer quanto tempo, talvez dependa de cada um. Entretanto, hoje tenho convicção de que menos de um ano longe é pouco para deixarmos sedimentar nossos afetos e âncoras emocionais que nos prendem ao nosso país e ao nosso povo. No início, a saudade ou a repulsa é grande demais e ofusca o que sentimos. Alguns não agüentam a distância, enquanto outros se deliciam com ela. Independentemente da direção do afeto, são necessárias as quatro estações do ano para que consigamos, realmente, colocar nossas emoções no lugar sem deixar os muitos ruídos nos atrapalharem. É comum ouvirmos críticas severas ou elogios exagerados na direção de nosso país. O Brasil, muitas vezes, é alvo de projeções dos que estão longe há pouco tempo. Um desemprego, uma frustração amorosa ou uma série de buracos emocionais não tratados podem levar alguns a projetarem estes sentimentos negativos no velho e sincero Brasil. As críticas são feitas com a certeza de que seria possível, ao viajarmos, deixar nossos próprios problemas e frustrações para trás e aí, de longe, criticá-los. Quando tecemos rígidas palavras contra nossa pátria, estamos, na maioria dos casos, criticando severamente a nós mesmos. Estamos falando de um “eu” que esperávamos ter deixado para trás. É preciso tempo para realmente sentir o que sentimos e percebermos que este que achamos que ficou veio junto também. Somos o que podemos ser em qualquer lugar que estivermos.

Depois de vivido ao menos um ciclo de quatro estações, estamos capacitados a perceber o que realmente sempre fomos, o que realmente nosso país e nossa gente significam para nós. Se depois disso ainda continuamos com alguma repulsa à nossa gente e ao nosso estilo de vida, a decisão é fácil: imigrar de vez, ficar para sempre onde estivermos. É muito bom sair de casa, conhecer lugares e pessoas. É muito importante para nosso crescimento perceber como diferentes culturas lidam com os afetos, com as necessidades humanas. Aprendemos muito neste processo, crescemos demais. Mas, um, dois, dez ou vinte anos longe de casa não podem são suficientes para destruir o que realmente somos, de onde viemos e para onde, um dia, devemos voltar. Ou temos ou não temos raízes. Não há espaço para o meio-termo. Quando as temos, podemos perceber o quanto é bom sair de casa e, principalmente, sentir o quanto é bom sabermos que sempre teremos para onde voltar

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