sexta-feira, 18 de março de 2011

Meus caminhos metodológicos em Londres


Londres tem me levado a interessantes reflexões a respeito de minha pesquisa de doutorado. Não por ser a cidade que é: cosmopolita, desafiadora, com soluções interessantes para problemas conhecidos e com problemas conhecidos sem qualquer solução. Londres também apresenta desigualdade social, stress, violência, pobreza e outras questões de cidades grandes. Há, sem dúvida, diferenças marcantes em relação a São Paulo e outras grandes capitais como Paris, Roma, Nova iorque e Tóquio. Entretanto, há muitas semelhanças que me fazem sentir em casa depois de 21 anos morando em São Paulo. Assim, minhas reflexões são provocadas pelo distanciamento de minha cultura, de minhas origens, de minhas raízes e de meu idioma, não pelo que Londres me oferece de forma inesquecível. Sem dúvida, estes tempos aqui serão lembrados em minha história de forma marcante. Mas, olhar à distância as próprias produções, os próprios pensamentos e caminhos escolhidos durante meu doutorado me leva a lugares que não tinha ainda encontrado. Só este ganho já valeu a pena todo o investimento, incerteza e esforço para estar aqui.
Estar em Londres em um doutorado sanduíche é um privilégio, mas não está longe de ser tarefa fácil. A posição de doutorando nos leva a responsabilidades diferentes, não apenas tenho que em aprofundar em outro idioma, mas também na forma de pensar da academia inglesa. Além disso, o tempo todo um doutorando brasieiro representa seu país, sua escola e seu berço de pensamento. Não vejo minha posição aqui como algo apenas meu, algo que irá refletir apenas em minha carreira. Estão comigo muitas outras pessoas, sinto que represento muitos em casa aula que assisto, em cada conversa que tenho com meu orientador, em cada momento que vivo nesta cidade. Sinto-me realizado quando percebo que, em menos de dois meses, algumas questões metodológicas e conceituais de minha tese puderam ser repensadas e entendidas sob outro ponto de vista. Meu ganho já é incalculável neste momento. Consegui seguir em frente em questões que me sentia estacionado já há algum tempo.
A principal razão de eu estar aqui estudando sob orientação do Professor Daniel Miller é sua legitimada experiência e conhecimento em antropologia, mais especificamente, no método etnográfico. Não só o método me interessa, mas a forma como o professor Miller interpreta os dados provenientes do campo. Sem dúvida, há percepções e opiniões que podemos e acho que devemos discordar, mas a sensibilidade deste estudioso em relação ao campo me fascinou e foi isto que me trouxe até aqui.
Entretanto, tenho convicção de que o método não é o único fator em uma pesquisa. O que sempre me incomodou no mundo acadêmico é o fetiche da metodologia. Como se esta fosse a única peça importante em um trabalho de pesquisa. A metodologia, sem dúvida, tem uma importância fundamental em qualquer trabalho, seja ele acadêmico ou mercadológico. Sem método, um executivo dificilmente chega ao sucesso. Sem um caminho metodológico, uma enfermeira não consegue atender a um paciente. Entretanto, não é só de método que vive uma pesquisa, mas há guetos acadêmicos que insistem em usar os métodos como arma de guerra por posições em seu campo. Os objetos de estudos e os resultados, são deixados de lado quando o fetiche é o método.
As leituras e futuras ações de campo que farei aqui me animam a continuar nesta viagem aqui em Londres. Uma viagem tipicamente acadêmica, onde qualquer passeio e experiência trazem algo a mais para minha produção.
Meu objetivo aqui, além de aprender, é desenvolver com ajuda do prof. Miller um caminho metodológico que consiga enxergar as redes sociais sob um olhar antropológico com um consistente approach etnográfico. Estou aqui para aprender a executar e tirar o melhor de um método de pesquisa e desenvolver, a partir dele, minha própria trajetória de pesquisa para os próximos anos. Assim, em meio ao meu doutorado, começo a pensar em meu pós-doutorado e em minha pesquisa para os próximos anos que deve envolver o público jóvem (tweens e teens) e as redes sociais.
Mãos à obra com um método, mas não só com ele!

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