sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Impressões sobre o intercâmbio em Oxford, Inglaterra - Confira o sincero e relevante depoimento de nossa aluna Thaís


Thaís é nossa aluna na ESPM. Cursa o quinto semestre de Comunicação Social. Aqui conta suas impressões a respeito do seu intercâmbio em Oxford, Inglaterra. De forma muito sincera e madura, Thaís descreve suas impressões a respeito de seu tempo por aqui. Vale muito ler a sensível e precisa análise que Thaís faz do povo inglês e de sua forma de ser. Boa leitura!

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Sou estudante de comunicação social na ESPM, nascida e crescida São Paulo, o que torna tudo que vem a seguir mais irônico ainda. Estou acostumada com coisas de grandes extensões, cidade, escola. Estudei a vida toda no Arqui, considerado um dos maiores colégios de São Paulo, na época tinham 5.000 alunos, lá eu estudei todas aquelas coisas que sabia que nunca usaria como física, química, biologia pois eu tinha decidido o que e qual faculdade eu queria muito antes de todo mundo, entrei na ESPM, e enfim, isso é só uma introdução enrolada porque por mais estranho que seja eu não sou uma futura publicitária que escreve bem. Então, se você quiser pular tudo e começar do parágrafo de baixo, à vontade, mas é uma pena que você tenha descoberto isso só agora. hahahahha.

Como a maioria das pessoas com quem convivo na ESPM sabe que o quinto semestre é aquele que você tem que escolher sua optativa, mudar para o período da noite e começar a procurar estágio. Mas, como é muita mudança pra um semestre só, também tem o pessoal que adia isso tudo, tranca a matrícula e vai fazer intercâmbio em algum país, e adivinha? Foi o que eu fiz. Eu e mais a torcida do Corinthians.

A idéia do intercâmbio já existia desde a época do colégio, mas a questão sempre foi para onde ir, Canadá, Estados Unidos, até Madrid passou pela minha cabeça. Mas, acabei optando pela Inglaterra. Lembro que cheguei na agência de intercâmbios dizendo que queria ir para Londres, mas me aconselharam vir para Oxford porque Londres não era tudo que diziam. Disseram que lá é tudo caro, tem pouco britânico e que eu me perderia, pois é muito grande. Aí pensei: ahhh que bobagem, eu moro em São Paulo, nada pode ser pior. Sei que de tanto falarem acabei vindo para Oxford, uma cidade menor, com mais britânicos pela rua e bem pertinho de Londres. Posso ir quando quiser, bem rapidinho. Mas, acredite ou não, estavam certos, até para uma moradora de São Paulo que já tinha um inglês relativamente bom, Oxford já foi uma cidade difícil de chegar, imagina Londres.

Toda essa dificuldade, em grande parte, não foi nem por demorar para me localizar e muito menos pela língua estrangeira, mas sim pelo choque cultural. Quando dizemos que europeus são frios não é brincadeira e, principalmente, os ingleses.

Acho que para qualquer brasileiro a chegada por aqui é difícil, somos conhecidos por ser um povo acolhedor, alegre e, por mais que as coisas estejam ruins, sempre achamos um motivo para tudo funcionar. Não nos preocupamos muito com as coisas porque sabemos que pra tudo tem um jeito. Quer saber? Eu só pude perceber isso longe de casa.

Outro dia uma professora minha aqui da escola disse: não sei o que tem no seu país em janeiro, se é férias, feriado, só sei que essa escola fica cheia de brasileiros, tem até outros ares, todo mundo fica mais alegre, é tão divertido. Vocês não param quietos, pulam, gritam e falam alto, parece que estamos sempre em festa.

Eu sempre achei que aqui seria como morar em outro planeta. Sabe, aquela velha história de 1º mundo? Achei que todo mundo fosse rico, tudo muito organizado e as pessoas finas e gentis. Teria um monte de festa boa e que faria muitos amigos britânicos, doce ilusão. Cheguei aqui em julho e logo na primeira semana começou aquela revolta que estava se espalhando por toda Inglaterra. Dai já veio meu primeiro pensamento: revolta? Destruir a cidade? Eu pensava que isso não era coisa daqueles mesmos ingleses conhecidos por serem extremamente corretos e tomarem chá às 5 da tarde. Depois disso, a cada dia surgia mais alguma evidência. E aos curiosos: existe sim mendigo na rua, tem sim lixo no chão, os nossos metrôs, apesar de poucas linhas, são muito mais modernos. As festas acendem as luzes às 2 da manhã e expulsam todo mundo. A comida é horrível e se tem uma coisa que eles não são é finos, quer comprovação? Dê um passeio de metrô em Londres, mas para isso prepare a respiração, deve haver alguma escassez de desodorante nesse país.

Aqui você encontra muito mais imigrante do que britânico, escuto muito mais espanhol, português e indiano do que inglês pelas ruas. Mesmo porque quem trabalha aqui são pessoas de outras nacionalidades. Acho que eles ficam todos enfiados dentro de casa sem fazer nada. Os ingleses parecem que vivem cada um dentro da sua própria bolha. Não são muito prestativos e são folgados, repito: ande de metrô.

Mas, como ainda restam algumas flores, aqui vem a parte legal da história. A Inglaterra é um país muito ligado à cultura, tanto que os museus são de graça. A quantidade de musicais e shows que têm aqui é absurda. É um país com uma história de muitos anos e que conseguiu preservar seus patrimônios. Os motoristas de ônibus são muito educados, pelo menos em Oxford que é uma cidade universitária. O povo em geral é honesto, tão honesto que você passa suas próprias compras na máquina pra pagar no supermercado. Vai fazer isso no Brasil pra ver se funciona, queria ver quem iria pagar pelas compras.

Outra coisa que eu invejo aqui é o patriotismo. Também a quantidade de linhas de metrô. É possível ir parar qualquer lugar mesmo, sem falar no trêm que liga a Europa inteira. As passagens de avião por 8 euros de um país para outro, as roupas e perfumes de dar risada do preço tão baixo e até a comida, que do jeito que é ruim, tem mais que a obrigação de ser barata. Agora para. Exclui carne de boi da minha generalização de comidas.

Sinceramente, fiquei meio decepcionada por não ser tudo que eu imaginava, tudo o que falavam. Mas, por outro lado, está sendo uma experiência muito legal. Eu pude conhecer lugares que nunca imaginei que iria, pude dar risada de um humor sem graça inglês, brincar com o sotaque deles, ver estudantes da tão famosa Universidade de Oxford pegando o mesmo ônibus que eu, morar sozinha (porque o um mês que morei em uma host Family pude considerar o pior mês da minha vida), aprender a fazer as coisas eu mesma se quiser, conhecer diferentes culturas, por mais estranhas que sejam, ver que os brasileiros são um dos povos mais queridos em todo lugar que vou. Mas, nada valeu mais a pena do que aprender a dar mais valor ao meu país porque se tem alguém que fala mal de lá e dá toda essa imagem ruim que o mundo tem do Brasil, somos nós mesmos. Tá certo que europeu é bem ignorante em relação ao que existe fora da Europa, acham que no Brasil só tem mato e cismam que falamos espanhol, mas enfim nós é que mais adoramos criticar o lugar onde vivemos.

Depois de todos os lugares que conheci, definitivamente posso dizer que, apesar dos altos impostos, altas taxas de importação que me dão vontade de chorar, da falta de estrutura para certas coisas, do lixo na rua, da pobreza e tudo aquilo que adoramos reclamar o Brasil, este ainda é o melhor lugar do mundo pra se viver. Se cada um que fala mal do nosso país pudesse passar um tempo fora pra sentir a falta da comida boa, falta de gritaria alegre, do contato físico, de um dar um "oi" não só levantando a mão, de cumprimentar aquela pessoa que você nem sabe o nome, mas pega metrô no mesmo horário que você todo dia, da bagunça que é esse lugar que até chega a ser engraçado, do pessoal gritando vendendo banana, da saída lotada do estádio com todo mundo cantando pelo seu time e não só batendo palma quando faz um gol. É! Eu sinto falta desse povo que sabe levar até as coisas mais difíceis na brincadeira, e olha que eu estou aqui só há 4 meses.

Quer saber? Eu não troco esse nosso lado que falei acima por nenhum outro lugar, tem muita gente que precisa aprender a parar de colocar a Europa no pedestal antes de conhecer, mas conhecer a fundo mesmo, morar fora pra entender. Só passar férias com tudo programado, comendo bem, em hotel bom e carro alugado é fácil amar um país mesmo.

3º mundo team.

2 comentários:

  1. Adorei a postagem. Acabei de me formar em administração e estou pensando em fazer um intercãmbio em Londres. gostaria de manter contato.

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    1. Olá Wellington. Desculpe pela demora imensa na resposta, mas é que meu retorno foi super animado.
      Meu email é joaomatta@globo.com
      Vamos manter contato sim.
      Abs

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