quarta-feira, 9 de novembro de 2011

O Facebook tem me deixado triste

Logo que cheguei a Londres em janeiro de 2011, deparei-me, como esperava, com um clima frio, dias chuvosos, noites mais longas que os dias e, o pior de tudo para alguém como eu, uma cultura muito oposta à minha. Nasci no interior de São Paulo, fui criado em uma família grande, de descendência italiana, onde as refeições são verdadeiros rituais, fala-se muito e um cuida bastante do outro. Acostumei-me a ouvir depois de qualquer tosse ou espirro que dou um “Deus te crie” ou, no mínimo, “saúde”. Preocupar-se com o outro, considerar e respeitar sua existência é parte da minha existência. No meu ponto de vista, ignorar o próximo é quase que um ato de desrespeito à vida. Entretanto, nem meus vinte anos em São Paulo foram suficientes para me preparar para Londres. São Paulo é uma cidade cosmopolita, fria com seus habitantes, as pessoas parecem não se importar tanto umas com as outras, mas nada comparado com Londres. No fundo, São Paulo é um conjunto de cidades do interior interligas, os bairros se diferem muito um dos outros. Depende onde moramos, parece que estamos em outra cidade. Aqui em Londres as pessoas não se importam mesmo com as outras. É comum vermos encontrões nas ruas e estes acontecem não porque os atores deste fato estavam desatentos ou pensando em outra coisa que os impediu de notar a presença do outro, é nítido que o outro é invisível, não existe. Como disse uma amiga que já voltou ao Brasil, “morro de medo de ter um treco no meio da rua e, mesmo precisando de ajuda, me deixarem morrer para respeitar o meu direito privado de morrer de repente”.

Londres das férias, dos passeios, das compras é outra. A Londres do dia-a-dia de quem mora por aqui, como já disse exaustivamente neste blog, é bem diferente. Esta Londres que nem sequer considera a existência do outro, confesso que não terei saudade. Muita coisa vai viver para o resto da minha vida em minha memória, mas a desconsideração da vida do próximo, não. Posso em um futuro mais distante voltar a morar aqui, mas sempre terei medo da frieza e da inexistência do outro para os Londrinos.

Desde que cheguei uma das coisas que gosta de fazer para atenuar minha saudade de casa, do meu povo, da minha gente era dar um passeio pelo Facebook. Também converso com minha família via Skype, o que me fez participar de aniversários, dias das mães e dos pais. Esta ferramenta é incrível para quem está longe de CASA como eu. E o Facebook também era onde gostava de entrar para conversar com amigos, ver suas fotos, acompanhar o cotidiano das pessoas que gosto, divertir-me muito com os posts dos alunos da ESPM. Entretanto, confesso que, ultimamente, diminuí demasiadamente meus acessos a esta rede social. Só não desisto definitivamente de lá porque minha pesquisa de doutorado é no Facebook. Preciso saber o que o pessoal apronta na timeline. Entretanto, confesso que o acesso a esta rede social tem me deixado triste. A causa disto é a enxurrada de posts homofóbicos e de preconceitos de outras ordens camuflados em brincadeiras de futebol, a comemoração de assassinatos públicos realizados em nome da “liberdade”, o sadismo demonstrado em fotos da morte do ditador Kadafi e, mais recentemente, este desrespeito a uma doença tão séria e inesquecível para parentes e amigos de suas vítimas: o câncer. Isto só para dar alguns exemplos.

Como postei uma vez, acredito que o Facebook se tornou um confessionário pós-moderno, um lugar onde mostramos de tudo, inclusive nosso lado B. Se eu estiver certo, tenho pena dos padres por aí. Devem ouvir cada coisa. 

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